No “Junho Violeta” retornamos nossa atenção especial para uma campanha social que visa alertar e conscientizar a população a respeito de todas as formas de violência contra a pessoa idosa e a importância de combatê-las. E para isso, se faz necessário compreender um pouco melhor como elas se dão.
Mais do que lembrar, essa data simbólica nos convoca a olhar, escutar e agir frente a uma realidade muitas vezes invisibilizada: o sofrimento psíquico e físico que atinge milhares de idosos em todo o mundo.
Envelhecer deveria ser sinônimo de colheita, sabedoria, cuidado e reconhecimento. No entanto, em muitos contextos, o envelhecimento ainda é atravessado por abandono, solidão, desrespeito e, infelizmente, diversos tipos de violência – sendo elas: física, psicológica, financeira, sexual, negligente ou institucional — e, muitas vezes, acontece dentro de casa, no convívio familiar ou por parte de cuidadores.
Do ponto de vista psicológico, é fundamental compreender que as marcas deixadas por essas violências nem sempre são visíveis. Uma palavra ríspida, um silêncio prolongado, a infantilização recorrente, a exclusão de decisões, a falta de escuta e validação são formas de ferir a dignidade emocional de alguém que, frequentemente, já lida com perdas, limitações e medos próprios do envelhecimento.
Diante disso, é comum acreditar que alguns sinais específicos tais quais depressão, ansiedade, isolamento social, síndrome do pânico, ideação suicida, transtornos cognitivos e sentimentos de desvalia, inutilidade e desesperança são naturais do processo da velhice, mas isto está equivocado e estamos diante de tabus que precisam ser revistos, pois muitas vezes, são respostas emocionais a um contexto de violência, abandono ou ausência de vínculo.
É importante observar alguns outros sinais de alerta que podem ocorrer se uma pessoa idosa está sofrendo algum tipo de violência, sendo eles: mudanças bruscas de comportamento, medos incomuns, má higiene ou desnutrição e confusão a respeito de suas próprias finanças, para que alguma medida possa ser tomada a fim de assegurar os direitos dessa pessoa.
Portanto, fica evidente que o cuidado com a saúde mental da pessoa idosa começa na escuta, no respeito e na inclusão. Estar presente é mais do que dar medicamentos ou garantir higiene. É manter o vínculo afetivo, valorizar sua história, cultivar presença e reconhecer o idoso como um sujeito com desejos, vontades e direitos.
A violência contra a pessoa idosa não se combate apenas com leis – ela se enfrenta com consciência relacional — na forma como falamos, ouvimos, tocamos e nos relacionamos com quem já viveu tanto. A promoção do respeito e da saúde mental no envelhecimento não é tarefa apenas de profissionais da saúde, por exemplo. É um compromisso social e afetivo. É no modo como a sociedade trata seus idosos que revela sua maturidade, humanidade e ética. Que sejamos mais atentos, mais cuidadosos, mais presentes, até para que possamos envelhecer em uma cultura que nos acolha, e não excludente.
Em casos de suspeita ou confirmação de violência, disque 100. O serviço do governo brasileiro é gratuito, sigiloso e funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana para acolher denúncias de violações de direitos humanos.
Por Chalise Martin, Psicóloga Clínica (06/151189)